Ensine ao seu filho a dar valor ao dinheiro

Recebi uma reportagem da Revista Exame sobre educação financeira para os nossos filhos. Achei bem interessante para dividir com vocês!

O Especialista explica quais são os 10 erros mais comuns dos pais no momento de ensinar aos filhos o valor do dinheiro – e como evitá-los!!!

Quem é pai sabe que uma das tarefas mais complexas da vida é a de educar os próprios filhos. Inculcar em uma pessoa os valores e princípios éticos que a tornarão alguém melhor pelo resto da vida é um trabalho que exige dedicação persistente. Um dos temas mais polêmicos em educação é a forma correta de ensinar os filhos a lidar e a dar o valor correto ao dinheiro. EXAME.com conversou com Cássia D’Aquino, educadora financeira, palestrante e autora de diversos livros sobre o assunto, e apresenta abaixo os 10 pecados capitais na educação financeira das crianças:

saude financeira crianças 1

1 – Não faça todas as vontades do filho

Essa é a maneira mais simples de tirar algo muito importante de seu filho que é o desejo. A criança não deve ganhar tudo porque vai achar que tem direito a tudo. Mas o principal problema de dar tudo de graça é que, com o tempo, ela vai parar de desejar as coisas. É o desejo que faz as pessoas levantarem todos os dias e irem em busca da realização dos sonhos. Um filho que não precisa de nada pode e vai ficar em casa a tarde toda assistindo televisão. A falta de desejo é a falta de vida.

Inclusive os filhos que não querem nada estão mais suscetíveis a comportamentos de risco, como o uso de álcool ou drogas. Os pais podem perceber isso quando dão um presente que não foi desejado pelo filho de verdade. A criança vai se desinteressar pelo brinquedo rapidamente porque ganhou fácil demais. Muitas vezes, a espera por algo que é muito desejado é tão gostosa quanto a própria realização do sonho. Os pais não devem tirar o desejo das crianças.

2 – Não crie uma pessoa impaciente

Os filhos precisam aprender a esperar. Há diversos estudos que mostram que as crianças bem novas são naturalmente impacientes. Se você pedir para a criança escolher entre ganhar um chocolate imediatamente ou ganhar dois daqui a uma hora, a imensa maioria vai ficar com a primeira opção. Quanto mais velhas são as crianças, no entanto, maior será o percentual das que escolherão dois chocolates após uma hora. Parte dessa evolução é explicada pela própria natureza, mas também há um trabalho que cabe aos pais. São eles que devem ensinar aos filhos que a recompensa aos pacientes será maior.

E será mesmo. Os mesmos estudos demonstraram que as crianças que desde muito cedo são ensinadas a ter uma postura mais paciente ante às dificuldades da vida serão mais bem-sucedidas após alguns anos. Essas crianças terão melhores empregos e conseguirão poupar com mais facilidade. Não é de surpreender. Uma criança que ainda jovem já demonstra ter capacidade de realizar pequenos sacrifícios tem tudo para alcançar seus objetivos quando crescer. Esse é exatamente o conceito da poupança e dos investimentos. A pessoa adia um consumo que poderia ser imediato agora para poder comprar bem mais lá na frente.

Uma forma de ensinar o filho a ser paciente é comprar com ele um doce na padaria e só deixá-lo comer em casa, por exemplo. Ou então fixar uma data futura para comprar determinado presente e marca-la no calendário. Toda vez que ele ver a marca vai se lembrar que o desejo será realizado em mais algum tempo. Não é necessário transformar isso em nenhuma forma de tortura. Acredito que é possível desenvolver a paciência de uma maneira natural, sem provocar sofrimento. 2

 

3 – Não ceda a pressões

Toda criança um dia vai se jogar no chão de uma loja ou supermercado e começar a gritar para coagir os pais a lhe comprar algo. Neste momento, qualquer um instantaneamente se tornará o centro das atenções e morrerá de vergonha. Mas quando isso acontecer, não ceda à pressão. Pelo contrário, levante seu filho (que provavelmente estará se contorcendo no chão), lhe dê um abraço e diga com firmeza que ele não vai ganhar o presente se continuar a agir dessa maneira.

Não se intimide se ele continuar a gritar. Boa parte dos pais cede nessa hora porque sente uma espécie de remorso por não ter muito tempo a dedicar aos filhos. Com o pai e a mãe trabalhando como loucos, é natural que eles queiram transformar o tempo que passam com os filhos em momentos de extrema felicidade. Educar os filhos corretamente, entretanto, é bem diferente de atender a todas as vontades. Não se sinta pressionado a fazer nada apenas para compensar sua ausência.

4 – Não remunere seu filho por qualquer coisa

Com dois ou três anos de idade, os filhos começarão a demonstrar uma grande vontade de trabalhar. O filho verá a mãe lavando a louça e o pai fazendo o churrasco e se oferecerá para tomar parte das tarefas. É correto que, neste momento, que os pais estimulem os filhos a tomar essa atitude proativa. Deixe-o passar o aspirador no carpete se essa for sua vontade. Crianças adoram água. Se eles quiserem lavar a louça ou o quintal, ensine-os a cumprir a tarefa de maneira segura.

Lembre-se que crianças com pouca idade sentem muito mais falta da atenção dos pais do que de dinheiro. Então não ofereça de imediato uma remuneração pelas tarefas. As crianças farão esse tipo de coisa com enorme satisfação apenas para ouvir elogios dos pais ao final. Mais para frente, não haverá problemas em oferecer algum tipo de remuneração para que o filho cumpra determinadas tarefas. Eu não estou falando de lavar a louça ou arrumar a cama. Esse tipo de tarefa que todos os demais integrantes da família fazem de graça não deve ser remunerado também no caso da criança. Já aquelas tarefas que o pai pagaria mesmo para alguém fazer, como lavar o carro ou cortar a grama, podem perfeitamente ser remuneradas.

O filho pode com isso aprender o valor do dinheiro. Quando um adolescente pedir um novo jogo de videogame que custa 100 ou 200 reais, não dê imediatamente a ele. Ao invés disso, ofereça uma lista com tarefas que podem ser realizadas e que lhe renderão uma remuneração. Não estou dizendo que os filhos não têm direito a um bom presente de Natal ou de aniversário. Mas acredito que não dar de graça pequenos mimos ajudará os filhos a aprender que dinheiro não cai do céu, mas que, com um pouco de esforço, é fácil consegui-lo.

5 – Não compita com os pais dos amigos

Se seu filho tiver algum coleguinha na escola que, com cinco anos de idade, já tem um iPhone, saiba que isso não é algo anormal. O consumo evoluiu, e as crianças de hoje em dia ganham presentes muitos mais sofisticados que antigamente. Mas não se sinta tentado a também dar um iPhone apenas para que ele não se sinta inferiorizado. Da mesma forma, não queira pagar uma festa de aniversário de 50.000 reais para o filho apenas para que ele possa parecer mais amado pelos pais que os amigos. As crianças com pouca idade ainda não sentem inveja umas das outras. Elas até podem desejar ter um videogame de última geração igualzinho ao de algum amiguinho, mas não vão sentir raiva por não ter aquele objeto.

Dar um iPhone para uma criança de cinco anos não é racional porque ela ainda não saberá nem precisará usá-lo. Da mesma forma, é possível fazer uma festa de aniversário inesquecível para ele gastando muito menos dinheiro. Agindo de outra forma, você não estará dando nenhuma lição ao seu filho. E ainda correrá o risco de transformá-lo em um consumista extremo.

6 – Mesada é bom – quando paga da maneira correta

O problema da mesada é a forma como ela é paga. O intuito da mesada é ensinar a criança a desenvolver a noção do valor do dinheiro. O filho terá de aprender a tirar o maior proveito possível daquela quantidade de dinheiro. Uma coisa que é importante os pais saberem é que dar dinheiro uma vez por mês não é o mais adequado para crianças ainda pequenas, de oito anos, por exemplo. Nessa idade, os filhos ainda não saberão se planejar para o mês porque 30 dias é um período muito longo de tempo. Recomendo aos pais dar um valor semanal para os filhos que só deve se transformar em mesada a partir dos 11 ou 12 anos.

Outro erro comum em relação à mesada é vincular aquele valor ao bom comportamento. O pai diz que só vai pagar a mesada se a criança parar de aprontar na escola. Não acho que o dinheiro deva ser uma moeda de troca na educação dos filhos. Há outras formas melhores de ensinar as crianças. Outro problema é a criança achar que tem o direito de gastar o dinheiro como quiser. Mesada não é obrigação. O pai tem o dever de orientar a criança no bom uso dos recursos.

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7 – Não tente discutir tudo

Muitos pais se sentem tentados a colocar em debate decisões financeiras que envolvem toda a família, mas se esquecem que crianças muito novas ainda não estão em condições de enxergar o melhor caminho. O debate excessivo pode se tornar um problema porque, com o tempo, a criança pode começar a querer tomar as rédeas da situação. No dia em que for contrariado, o filho poderá, por exemplo, dizer ao pai que ele é chato. Qualquer adulto vai sentir um baque na primeira vez que ouvir isso. Mas algumas vezes, será necessário dizer ao filho que ele terá de fazer algo simplesmente porque o pai está mandando.

8 – Não tente adestrar seu filho

Uma vez ouvi o relato de uma executiva que estava naquele processo de tirar as fraldas da filha. Sei perfeitamente que algumas crianças têm mais dificuldade nessa fase. Os pais devem encarar isso com naturalidade porque, afinal de contas, os filhos acabam aprendendo. Mas essa executiva contou que a técnica que estava sendo empregada era a de dar uma bala à filha a cada vez que ela a chamava para fazer xixi no pinico. Já quando ela fazia cocô, ganhava duas balas. O problema é que esse é o condicionamento de Pavlov. Os pais devem educar os filhos, e não adestrá-los. Desse jeito, quando crescer, a criança só vai atender as vontades do pai se ganhar algo em troca. Não é a forma correta de educar uma criança.

9 – Não confunda empresa com família

Uma vez dei consultoria financeira para o diretor de uma empresa e ele queria saber por que as mesmas coisas que ele fazia na empresa para estimular seus funcionários não funcionavam com o filho. Ele prometia ao filho de três ou quatro anos um bônus por bom comportamento. E não era só isso. Ele também produzia relatórios diários sobre como o filho estava agindo. É lógico que o cérebro de uma criança não funciona como o de um empregado. Não tinha como dar certo. O conselho que dou é que o pai dedique ao filho um tratamento condizente com o contexto da família.

10 – Não adianta pedir para a criança fazer algo totalmente diferente dos pais

Se os pais são perdulários, gastam mais do que ganham e estão sempre endividados, a chance de a criança ter uma relação parecida com o dinheiro será bem maior. Afinal, os pais são a principal referência psicológica e cultural de filhos jovens. Participo constantemente de programas de educação financeira nas escolas e pude perceber ao longo dos anos de que é muito difícil tentar moldar a personalidade de uma criança de uma forma diametralmente oposta ao que foi ensinado em casa. Se você quer que seu filho tenha dinheiro quando crescer, pense nos exemplos que está dando a ele. Mostre que alguns desejos caros que foram realizados por você mesmo exigiram uma série de sacrifícios. Mostre que você também abriu mão de diversos itens que não eram essenciais para realizar um sonho. Isso vai ajudá-lo a entender a mensagem e a usar o dinheiro de forma racional

Fonte: Exame

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